Como preservar a fertilidade de pacientes com câncer
- Dr. Luiz Fernando Carvalho
- 20 de out. de 2017
- 3 min de leitura

A descoberta do câncer causa um grande impacto na qualidade de vida das pessoas e dos familiares. São centenas de questionamentos relacionados principalmente ao futuro e isso é totalmente compreensível, ainda que hoje os tratamentos da doença tenham resultados cada vez mais positivos.
Falando em futuro, existe uma questão muito importante a ser abordada sobre o tratamento do câncer: a perda da fertilidade causada pelos medicamentos quimioterápicos administrados no período. Isto é, a impossibilidade de homens e mulheres terem filhos após o tratamento da doença. Infelizmente, esse é um problema ainda pouco diagnosticado pelos especialistas e também pouco conhecido pelas pacientes, o que as impedem de recorrer a alternativas que preservem a sua fertilidade.
Um estudo publicado no Journal of Clinical Oncology revelou que apenas 25% dos oncologistas orientam as pacientes sobre o risco de infertilidade pós-tratamento do câncer. O mesmo índice se aplica para os especialistas que encaminham as pacientes para um médico especializado em reprodução humana. Obviamente, o foco do tratamento do câncer é curar a doença, no entanto, levar em conta a fertilidade da paciente pode significar a realização de um grande sonho para ela no futuro.
O tratamento do câncer pode causar infertilidade por vários motivos: ação dos fortes remédios aplicados na quimioterapia, exposição dos ovários ou testículos à radioterapia (que pode levar à falência ovariana e falha na produção de espermatozoides, respectivamente) e remoção dos órgãos reprodutores (caso o tumor seja na área reprodutiva). Os fatores que ditam o grau de perda de fertilidade variam de acordo com o estágio em que a doença se encontra, a idade da paciente e a as medicações/doses a serem administradas no tratamento, por isso é tão importante que oncologista e especialista em reprodução humana trabalhem “juntos” nessa causa.
No caso de mulheres com menos de 25 anos de idade, os efeitos do tratamento do câncer pode ser menos nocivo, pois seus ovários têm maior capacidade do que as mulheres acima dos 30, por exemplo. Isso pode significar que a sua fertilidade esteja intacta após a conclusão do tratamento, no entanto, as chances de elas terem menopausa precoce são grandes. Sendo assim, a tentativa de engravidar teria que ocorrer logo após o tratamento.
Como preservar a fertilidade antes do tratamento do câncer
Atualmente, existem diversas opções de tratamento para preservar a fertilidade e ampliar a possibilidade de reprodução no futuro. Associada à descoberta do câncer, a preservação da fertilidade é chamada de “oncopreservação” ou “oncofertilidade” e tem o objetivo de proporcionar a gravidez após a cura da doença.
Logo quando o câncer for diagnosticado, a paciente deve agendar uma consulta com o especialista em reprodução humana, pois os procedimentos de preservação da fertilidade devem ser feitos antes da quimioterapia ou radioterapia.
Os principais tratamentos para preservar a fertilidade são:
Congelamentos de óvulos
Congelamento de embriões
Congelamento de sêmen
Congelamento de tecido ovariano
Congelamento de biópsia testicular ou tecido testicular
As técnicas de preservação da fertilidade consistem em congelar gametas (materiais ou células sexuais) para que a gravidez seja possível no futuro. A diferença entre o congelamento para mulher e para o homem está na complexidade. No caso do homem, é bem simples, onde ele expele o ejaculado por meio da masturbação e o material é levado para congelar. Já no caso das mulheres, é preciso administrar medicamentos para induzir a ovulação e posteriormente aspirar os óvulos. Para as mulheres que não podem tomar ou aplicar as medicações de indução, o recomendado é que congelem tecidos ovarianos, que são removidos por cirurgia via videolaparoscopia.
Os gametas recolhidos são congelados a -180º e podem ser descongelados depois de meses ou anos, quando a mulher ou homem já tiver tratado o câncer. Daí então, é necessário seguir com algum dos procedimentos de reprodução assistida. Se o homem tiver preservado o material, o sêmen pode ser inserido na cavidade uterina da parceira por meio de inseminação artificial. No caso da mulher, se tiver congelado tecidos ovarianos, os mesmos devem ser reimplantados para que o os ovários retomem as suas funções. Se houve congelamento de óvulos, é necessária a fertilização in vitro, em que o material feminino e masculino são fertilizados em laboratório a fim de formar embriões para serem transferidos ao útero da mulher com o objetivo de desenvolver a gravidez.
Alguns fatores que médico e paciente devem considerar antes de preservar a fertilidade:
• Idade da paciente;
• Reserva folicular;
• Estado civil (se possui parceiro ou não);
• Região e estágio do câncer;
• Desejo de ser mãe ou pai
• Dose e número de ciclos de quimioterapia e quantidade de radioterapia a ser aplicada;
• possibilidade de pagar pelo procedimento de congelamento.
Já existem inúmeras pessoas que conceberam após o tratamento adequado de preservação da fertilidade. Ainda não se sabe qual o tempo exato que os gametas podem permanecer congelados e saudáveis, no entanto, o procedimento já se demonstrou eficaz em pacientes que descongelaram os materiais cinco anos após a preservação.
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